domingo, 11 de março de 2007

Gauderiadas

O meu Rio Grande é, de fato, um estado muito peculiar. Por aqui, ninguém pronuncia os esse do final das palavra no plural, ninguém chama você de você e ninguém vai na padaria comprar um pão francês. A nossa bebida predileta consiste num chá amargo e quente de Ilex Paraguaiensis, sorvido de uma cuia por meio de um dispositivo metálico chamado bomba. Aqui, domingo sem churrasco não é domingo, churrasco sem costela não é churrasco e costela sem matambre não é costela. Também não sabemos o que são ladeira, farol, ponto de ônibus. Temos apenas a leve impressão de que sejam coisas parecidas com lomba, sinaleira e parada.
Mas uma coisa que com certeza chama a atenção de muitos visitantes são os ditos e expressões que usamos com certa naturalidade. Se você, amigo paulista, chega aqui e escuta que tá fazendo um frio de renguear cusco, talvez fique meio desnorteado, sentindo-se mais por fora que arco de barril. Isso é perfeitamente normal. É comum pessoas não acostumadas com o nosso linguajar ficarem mais perdidas que cego em tiroteio. É possível também que alguém zombe do seu estado de confusão, alguém mais folgado que colarinho de palhaço. Mas não se preocupe, se você for esperto que nem gringo de venda, logo estará habituado a tudo isso. Vai ser mais fácil que tirar doce de piá.

Aí vai uma seleta lista das melhores Gauderiadas disponíveis por aí, de acordo com o site http://www.geocities.com/Athens/Acropolis/2776/gauderio.html :

-->Aumentar mais que casa de ladrão.

-->Aumentar mais que barriga de prenha.

-->Grudado que nem bosta em tamanco.

-->De boca aberta que nem burro que comeu urtiga.

-->Mais amontoado que uva em cacho.

-->Afiado que nem navalha de barbeiro caprichoso.

-->Mais alto que cavalo de oficial.

-->Mais angustiado que barata de ponta-cabeça.

-->Mais velho que mijar pra frente.

-->Mais apertado que alpargata de gordo.

-->Mais apertado que rato em guampa.

-->Mais apertado que coleira de guaipeca.

-->Mais assanhado que lambari de sanga.

-->Mais bonita que laranja da amostra.

-->Mais branco que perna de freira.

-->Mais esburacado que poncho de calavera.

-->Mais chato que chinelo de gordo.

-->Mais ciumenta que mulher de tenente.

-->Mais comprido que bombacha de gringo.

-->Mais comprido que esperança de pobre.

-->Mais comprido que suspiro em velório.

-->Mais comprido que xingada de gago.

-->Mais enrolado que cristal pra viagem.

-->Mais enrolado que lingüiça de venda.

-->Mais curto que coice de porco.

-->Mais curto que estribo de anão.

-->Mais firme que prego em polenta.

-->Mais firme que palanque em banhado.

-->Mais solto que bolacha em boca de véia.

-->Mais eficiente que purgante de maná.

E por aí vai...

Um comentário:

Cesar Franco disse...

Eu sou de Curitiba, e mesmo vocês estando aqui do lado,as vezes o pessoal daqui também estranha o vocábulo gaúcho. Confesso que as vezes bebo chimarrão, e faço outras coisas particularmente gaúchescas, mas eu não consigo me controlar no quesito rir quando vejo algúém falando o espécime de Espanhol com Português de Portugal. O Rio Grande do sul é maravilhoso,é o estado em que se tem a maior qualidade de vida no Brasil, simplesmente surreal. Eu particularmente sou fã dos Vales que tem aí, seé que se pode chamar assim,onde só se vê aquele verde natural no transcorrer do horizonte.

Sucesso no Blog e parabéns.
Cesar.